Desculpas encharcadas

A culpa é do sol. E do Algarve ser lento na mudança de estações. E das reuniões familiares e dos abraços, das imperiais e dos tremoços. A culpa é da euforia no rescaldo de dois anos de semi-sufoco. O blogue está a marinar nestas culpas que podem ser desculpas, e está paradinho como a sardinha que espio, quietinha no sal. Esperemos só que venha a ficar rijo como elas, quando os dias forem de chuva e a praia deixar de me obrigar, com a força tremenda dos seus argumentos, a espetar pés na areia e cabeça na água.

Mas não havendo muito a acrescentar no blogue, há outras escritas. O segundo romance avança, e estou a gostar de lá estar dentro — o que é condição obrigatória, porque não gostando eu, não acredito que alguém o possa fazer. Lá dentro, habito outras vidas, deslumbro-me com personagens que afinal respiram, que têm corpo e vontades, e se atrevem até a imporem imprevistos. Gosto de lá estar, com eles e elas e o tempo que lhes impus, mesmo que por vezes me arrepanhem as vísceras e me tirem o sono e me conduzam ao desconforto de lugares difíceis. 

Quando publiquei o blogue, deixei lá, na secção de contos, um capítulo que rabisquei há cerca de dois anos atrás. Acabava então mais uma revisão do No Pais do Silêncio, e estava cansada de depurar frases e parágrafos, de ler sem paixão o que tinha sido escrito com ela. Meti-me a fugir, durante umas horas, a meter a alma noutras paragens, e escrevi, sem saber que juntava as primeiras palavras de um segundo livro e os traços imberbes de um personagem. Chamei o capítulo, Invisível, e está aqui.

Partilho, só para fingir que tenho coisas novas escritas no blogue, enquanto a sardinha acaba de grelhar.

Entretanto, e aproveitando esta inesperada estadia no país, mão a mão com a Página a Página, vamos percorrendo o país e divulgando o No País do Silêncio. Quem acompanha este blogue ou a página do Facebook, sabe que o apresentámos na Feira do Livro da Festa do Avante e na Feira do Livro de Lisboa. O que talvez não saibam, que é notícia fresquinha, é que vamos ao Porto, no dia 6 de Outubro. Fica aqui a dica, e o convite a quem por lá puder passar. É na UNICEPE (Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto) às 18h do dia 6 de Outubro, com a honra de ser apresentado pelo professor António José Gomes / escritor João Pedro Mésseder. Eu lá vou estar, provavelmente encolhida mais uma vez, pequena entre grandes, convencida de que quem colocou um microfone à minha frente enganou-se, com certeza, na pessoa.

@ Rita Cruz. 2021

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