Olá a quem por aqui passa e a quem por aqui fica. A quem já me conhece e a quem vem bater à porta, leve levemente, com o intuito de o fazer.
Criei este espaço para que a minha escrita tenha uma casa. Uma casa de porta aberta, como aprendi a deixá-la e como fazemos na minha Beira Alta. Para que entre gente, que está frio lá fora, e há sempre alguma coisa para oferecer cá dentro. Aqui, nesta casa, há palavras. Entre, esteja à vontade, e boas leituras.Na alvorada dos anos sessenta, uma professora leva os filhos e uma mentira para uma pequena vila da Beira. A ilusão de sossego não perdura. Na manhã geada do primeiro dia de aulas duas crianças e um incidente violento unem a forasteira às gentes da vila. Ao mesmo tempo, na capital, nas entrelinhas do silêncio, o homem que ficou para trás, desafia um regime que não admite ser desafiado.
Ao longo de mais de uma década, ela, ele, e as vidas que se tecem à volta, levam-nos a uma viagem por um país pobre e amordaçado, pelas vidas condenadas ao sobressalto, pelas escolhas que se fazem e pelo preço pago — ontem, hoje e sempre — por erguer o humanismo num mundo hostil.
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“O homem observou-os a descer a rua e levantou-se, incrédulo do que acabara de fazer. Com mãos trémulas e coração acelerado, apanhou os papeis, alguns pisados e rasgados, e seguiu caminho apressado. Contará à esposa, mais logo, e ela perguntar-lhe-á “mas Jorge, e se fosses preso?” e ele responderá que tinha tido medo, mas que não tinha havido tempo para pensar, que os dedos se tinham mexido como se não fossem dele, que a vontade de fazer o que lhe parecera correcto não esperara esbarrar-se na razão e agira antes do pensamento intervir. Não sabia o que o homem fizera, mas quem não sabia de gente presa por erguer a voz no país de silêncio em que viviam? Ele conhecia, sabia e todos os dias calava. Podia fechar os olhos a maior parte do tempo, mas naquele momento fora chamado a agir. E agira.”

Instantâneo 2
Coimbra. Sala pequenina. Gente que vem porque o amigo diz. Estamos na franja do mundo. Da azáfama, das elites, do burburinho. Estamos à margem.

Caminhos perdidos
E penso, por momentos breves, se cada vez mais vai ser assim. Se em vez de olhar maravilhada para a promessa de todos os caminhos, vou ficar parada, peganhenta e a sacudir formigas.

O mundo do meu parque
Vejo o mundo pequenino, neste ramo da árvore, penso como é fácil deixá-lo amadurecer e apodrecer, aqui sentada, em inócua inércia.

Dois mil e vinte e dois
Por isso não escrevi. E agora, já não sei se me apetece. No céu azul que temos por cima de nós, no ar limpo, varrido da chuva dos últimos dias, na brisa que atravessa a sombra, na manhã perfeita que vivemos, onde a pandemia desinsufla de horrores como um balão ferido de ar, não sei se me apetece escrever, digo-lhe.

Uma primeira entrevista
No País do Silêncio está finalmente à venda. Sou, de má vontade, participante à distância. Mas aprendemos alguma coisa nestes longos meses de isolamento: a estar mais próximos na distância. Não estando ao vivo, estou no ecrã.

A insuportável poeira dos corpos
Diz que quando somos chamados a agir, agimos, mas creio agora que não é verdade, que é uma ilusão apenas, um dito filtrado de exemplos, estripado de história. A realidade contada às crianças que somos, sedentas de um final feliz antes da hora de adormecer.